quarta-feira, 9 de julho de 2014

Por que será que há uma síndrome da colocação da vírgula antes do "e"?

Prezados

De vez em quando, uns erros de Português começam a aparecer com tal frequência, que chegamos mesmo a nos perguntar se seriam erros ou não. Deve ser algum tipo de fenômeno de indução. Algumas pessoas começam a observar a presença do erro em tantos textos, muitas vezes em espaços nobres da imprensa, que acabam acreditando se tratar de um estilo diferenciado ou coisa parecida.

Com o grande desconhecimento das normas cultas da língua entre nós, afinal são tantas, é natural que, ao ler uma forma diferenciada de escrever em veículo com tudo para ser confiável, o cidadão entenda que se trata de um “algo mais” e incorpore aquele detalhe no que escreve no dia a dia.

Por exemplo, por que será que há uma síndrome da colocação da vírgula antes do "e"?

Tenho observado, com bastante frequência, o uso por parte de alunos – em simples textos escolares, em Trabalhos de Conclusão de Curso, em Dissertações e até mesmo em Teses – de construções de escrita usando a vírgula antes do ''e'', o que só é aceitável em alguns poucos casos.

Lendo no blog do Reinaldo Azevedo a postagem sobre o desastre histórico de nossa Seleção frente à Alemanha, ontem, disponível em http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/desastre-historico-5-nao-e-so-pelos-7-a-1-e-tambem-pela-vergonha-ou-a-alemanha-honra-o-futebol-e-quatro-brasileiros-tentaram-cavar-penaltis-que-nao-existiram/ , eu fico me perguntando: por que em “A Alemanha honra o futebol, e quatro brasileiros tentaram cavar pênaltis que não existiram!” há uma vírgula antes do “e quatro brasileiros”?

Até onde eu sei e a Dona Teteca me ensinou, em Português, não se emprega a vírgula antes da conjunção “e”. Estou dando o exemplo do Reinaldo Azevedo, mas quase que diariamente vejo esses dois juntos, a vírgula e o “e”, seja na imprensa ou em textos dos mais diferentes tipos.

Por que todo mundo resolveu, de repente, colocar os dois juntos, vírgula e “e”? Seria uma influência do Inglês?

É bem verdade que há uns poucos casos especiais em que os dois podem aparecer juntos, mas não vou me alongar no assunto. Aos interessados em se aprofundar no tema, recomendo o texto de Thaís Nicoleti de Camargo, que é consultora de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL, disponível em http://educacao.uol.com.br/dicas-portugues/virgula-antes-do-e-so-em-casos-especiais.jhtm .

Forte abraço

Fernando Goldman

3 comentários:

Ferdinand disse...

Bom dia , Fernando

Quando esta postagem apareceu fiquei em dúvida se fazia parte do contexto do blog. Depois verificando o blog da Thaís, ficou claro que tem tudo a haver. É na falta de concisão e na ambiguidade da comunicação que causamos muitos problemas em nossas empresas e relações. Por acaso reví a palestra da Anne Curzan em http://www.ted.com/talks/anne_curzan_what_makes_a_word_real e aí fico pensando não seria a hora de flexbilizar esta regra da vírgula, objeto de teu post?
Forte abraço

Fernando Goldman disse...

Prezado Ferdinand

Quando eu estava no primeiro ano do segundo grau, no Pedro II, tive uma professora de Português, muito simpática e jovem, bem diferente do carrancudos aspirantes a catedráticos, que tivera no Ginásio. Foi ela quem me chamou atenção que uma língua para ser viva precisa criar palavras novas constantemente. O Latim é uma língua morta porque não há palavras novas sendo criadas em Latim.
Agora, mudar uma regra de escrita, que tem uma justificativa lógica é outra história.
Se toda vez que um erro se tornar comum, ele passar a ser adotado, prevalecerá a moda e não a lógica gramatical e, assim, nunca teremos certeza do que está sendo mais usado no momento.

Ferdinand disse...

Veja você como as experências do Ginasial podem ser diferentes.
Eu tive a "sorte" de ter como professor jovem o cidadão J.C.Castriota! Este não tinha um pingo de considerção com um aluno assustado, oriundo da cortina de ferro, para o qual o português era a terceira língua a que era intoduzido em um curto período de tempo. Foi traumático. Mais porque ele curtia e apontava meus erros na turma. O pessoal caía na gargalhada e eu calava e me retraía rôxo de vergonha. Hoje penso que o tal professor só podia ser um psicopata.
Mas fora alguns percalços, me considero um cara de sorte.